Equidade para a Infância entende que a cultura é um direito humano inalienável e uma dimensão chave do desenvolvimento das sociedades. A relação entre infância e cultura é complexa e sua compreensão variável histórica e contextualmente. Se os imaginários dominantes ainda reforçam a idéia da criança como receptora e reprodutora das ordens culturais, outras concepções consolidadas em vários âmbitos acadêmicos e sociais reconhecem sua condição de sujeitos ativos na construção da sociedade.
No terreno da cultura são construídos os símbolos, as normas e os valores que instituem realidades, ao mesmo tempo em que surgem práticas transformadoras das ordens previamente estabelecidas. Deste modo, as reflexões sobre cultura devem partir da compreensão de sua articulação com as relações de poder e com as condições econômicas que restringem ou ampliam as possibilidades de ações dos diferentes sujeitos. Assim, a dimensão cultural não se desvincula dos processos econômicos e políticos e das múltiplas desigualdades que conformam as condições de reprodução e transformação social.
Do mesmo modo, num mundo regido por lógicas assimétricas que em geral implicam a subordinação infantil com relação aos/às adultos/as, as crianças não assumem uma posição passiva: negociam, compartilham e criam conhecimento e cultura com seus pares e com os/as mais velhos/as nos diversos espaços onde participam. O fortalecimento da agencia infantil depende da capacidade que tenhamos para desconstruir o olhar adultocêntrico tão arraigado, ampliando a escuta e incorporando o ponto de vista das crianças. A abertura de espaços para sua efetiva participação no âmbito doméstico, comunitário, institucional e público constitui um desafio necessário neste sentido.
Os documentos que reunimos neste boletim apresentam distintos aspectos e reflexões acerca da complexa articulação infância-cultura. Por um lado, enfocam esta relação em termos de suas transformações históricas e contextuais; por outro, destacam a potencia que podem ter as experiências educativas e artístico-culturais no sentido de constituírem-se como lugares de criação, produção de subjetividade e construção coletiva. Ao mesmo tempo, entendem estas experiências como possíveis caminhos para a ampliação da cidadania na medida em que permitem crianças, adolescentes e jovens reconhecerem-se como sujeitos de direitos, denunciando aqueles que estão sendo vulnerados, e desenvolvendo ações que favoreçam a melhoria de suas condições de vida.
O enfoque proposto por Equidade para a Infância pretende direcionar o olhar para as condições sociais e os processos culturais que incidem nas crianças, e que ao mesmo tempo são modificados por elas a partir de sua condição de produtoras de conhecimento e cultura. Neste sentido, a agencia infantil se constitui enquanto prática potencialmente transformadora das dinâmicas de reprodução da desigualdade. | | Arte e Cidadania. A contribuição dos projetos artístico-culturais para a construção da cidadania de crianças e adolescentes. UNICEF Argentina. Sennaf, Fundación Arcor, Equipo de Acción por los Derechos Humanos (EDADH), 2008.
Infância e adolescência na cultura do consumo. CASTRO, Lúcia Rabello (Org.). Infância e Adolescência na Cultura de Consumo. Rio de Janeiro, Editora Nau, 1998.
“Um olhar reflexivo sobre a cultura da infância”.Seminário Introdução à proposta educativa Reggio Emilia, Itália. Bogotá, 2006.
Orquestras e coros juvenis e infantis da Venezuela.Entrevista com Vanessa Díaz, Diretora da Orquestra Pré-infantil Mozart de Maracay. Infancia Latinoamericana. Revista Digital de la Asociación de Maestros Rosa Sensat. N. 4. Abril, 2012.
Cidadania e estética dos jovens das periferias e favelas. Herschmann, Micael. Martín-Barbero, J. (coord.). Entre Saberes Desechables y Saberes indispensables. [agendas de país desde la comunicación]. Documento no. 9. Centro de Competencia en Comunicación para América Latina, C3 FES. Bogotá, 2009. |
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