quarta-feira, 20 de setembro de 2017

POEMAS SELECIONADOS - ITABUNA 2017


POEMAS - ITABUNA - 2017

A FLOR

Floreia pétalas
Miolo e cores. Floreia Prima Vera, floreia!
Bela, amarela, sol e luz: em você Prima, tudo reluz.
Você é Vera: verdadeira e única e ímpar.
E neste dia de festejar
A Primavera,
nossa perfumada irmã, uniu seu semblante
seu eterno poemar.
AUTORA: Dinha Nepomuceno


A IMPORTÂNCIA DAS ÁRVORES

A árvore vem da semente
No chão plantada e regada,
Parece um pedaço de madeira
Mas tem importância inexplicada.
Infelizmente, todos os dias
várias árvores são cortadas,
tudo para ganhar dinheiro,
os homens não ligam pra nada.
Mal sabem os destruidores
Que a árvore traz o oxigênio
Sem ele não podemos respirar
Prejudica todos que se sentem gênios.
Se tudo continuar assim
O homem se sentindo invencível
Irão destruir os humanos
Pois viver sem respirar é impossível.

AUTOR: Anderson Mateus


ÁGUA, BEM PRECIOSO

A água é um bem precioso
Que devemos preservar
É o recurso natural mais valioso
E por isso, não pode acabar.

Devemos cuidar,
Devemos lutar,
Olhe a situação
Tudo pode mudar.

A água move usinas,
Fábricas, família e alimentação
Ela é importante até demais
Para planta, gente e animais.

Devemos ter consciência,
A água não podemos desperdiçar
Os rios estão se acabando
Das fontes de água doce devemos cuidar.

Por isso vamos ter consciência,
Não se esqueça, vamos lutar
Todos juntos, nesse objetivo
O Brasil inteiro vai se conscientizar.
AUTORA: Cristiane Sousa dos Santos


ARROGÂNCIA LANCINANTE

Quando a raça humana
chegou ao planeta Terra,
declarou aos que já estavam
um manifesto de guerra,
e passamos a nos julgar
matéria únicos herdeiros do Eterno.
Com empáfia, consideramos
todos os demais ocupantes
destinados ao extermínio,
fossem minúsculos ou gigantes,
expurgados da nossa terra.
O resultado é sombrio,
um desequilíbrio gritante.
E agora a humana gente
se vê na séria ameaça
de se tornar um mutante,
reproduzindo em alta escala
assassinos e farsantes,
corruptos e ladrões,
opressores e assaltantes.
AUTOR:(PÓVOAS, Ruy do Carmo. Matéria acidentada. Ibicaraí, BA: Via Litterarum, 2017. p. 91)


ARVOREFIM!

Cortas...
Derrubas...
Dilacera...
Separa...
Mutila...
E se só palito...
Sirvo te em folhas...
Ora papel...
Ora lembrança...
Frondosa, e viva arvore.
Que fora.
AUTOR: Jose Antônio Loyola Fogueira.


BALADA

A barra escancarada
engolindo o Cachoeira,
as ondas encapeladas
desgastando tua areia,
o vento desbragado
espancando teus outeiros.    
Os falsos aventureiros
carregando teu cacau,
os governos impiedosos
devorando teu dinheiro,
alguns filhos traidores
entregando-te ao estrangeiro,
e certos ricos miseráveis
engendrando mil pobrezas
hão chorando de enfrentar
tuas célebres fortalezas.

São Jorge, santo divino,
plantado em teu altar.
Oxóssi, de santo tino,
pronto para caçar.
Jorge Amado, branco fino,
em negras letras a bradar.

A barra matando o rio,
a onda roubando a areia,
o vento a te espancar
são brigas da Natureza,
só servem para te enfeitar.
Mas a ganância dos homens
são forças que te consomem
sem nunca se saciar.
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. VersoREverso. Ilhéus: Editus, 2003. p. 69-71)


BRUXARIA

Uma bruxa danada
passou por aqui,
com sua vassoura,
fazendo plim-plim.
Espalhou pó de pemba
nos cacaueiros,
acabou o dinheiro
dos fazendeiros,
deixou todo mundo
na quebradeira
da catarineta
do virabrequim.
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. VersoREverso. Ilhéus: Editus, 2003. p. 75)


CARTA AO PLANETA TERRA

Caro planeta,
Venho em nome de todos os homens, implorar-te teu perdão - ainda que eles não se importem com o mal que te têm feito.
Venho em nome de todos os homens, acalmar teu coração, mutilado pela serra e entupido de poluição.
Tuas entranhas esfaceladas pela dor de tantas queimadas; teu ventre sujo de sangue pelo assassinato de vossos filhos.
Tua face manchada pelo choro dos rios, secos, imundos - abertas cicatrizes;
Teu peito cavado até o fundo, para explorar tuas raízes.
Venho e trago comigo a paz, da qual os homens já se esqueceram, e ofereço-te o mesmo amor que a ti eles nunca ofereceram.
Amor com o qual tu nos cobre, dia e noite, o tempo inteiro. Amor de mãe que amamenta o filho, que o abriga da fome e do frio; amor também de jardineiro, que planta, cuida e faz florescer.
Somos flores plantadas em teu jardim; rosas que não amadureceram. Nossas pétalas ficaram no caminho; só os espinhos floresceram.
Dentro de nós cresceu o ódio, que de ti certamente não herdamos; também a ira e a ambição, as quais nós nos agarramos.
E, afastados de vossa proteção, desgarrados de vosso amor, nos perdemos em nós mesmos - afundamos em nossa dor.
Não cuidamos da natureza, não nos preocupamos com a riqueza de florestas desmatadas, nem com os animais sacrificados para alimentar nossos desejos mais fúteis.
Somos seres inúteis. Inúteis na terra onde vivemos. Não respeitamos o próximo, não dividimos o alimento.
Fazemos guerras e matamos em nome de qualquer bandeira. Só consumimos e descartamos, poluímos e desmatamos - matando-te de diversas maneiras.
Sei que haverá um dia em que nossas barbaridades nos levarão ao fim.
Espero eu, que quando este tempo chegar, tu possas enfim se curar de todas as feridas que em ti deixamos.
E espero mais que tudo, que nunca haja novamente uma raça como a nossa no futuro.
AUTORA: Bruna Santos Novais de Souza


CENTENÁRIO

De primeiro,
se amava,
se apreciava a lua
na madrugada serena,
se distraía na rua.
A água que se bebia
brotava do limpo chão.

Na cidade centenária,
a gente só sente medo,
se esconde nas cadeias
das casas particulares,
a rua fica vazia
a lua fica sozinha
e corre sangue pelo chão.
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Novos dizeres. Ilhéus: Editus, 2016. p. 37)


CORRENTEZA
O rio cortando a cidade,
a cidade rompendo os homens,
 os homens todos correndo,
 em busca do frio chão.
 O chão todo asfaltado
 o transeunte assaltado,
 o espírito sobressaltado:
 doentes do coração.
 A terra contaminada,
 o rio todo cremoso,
 a cidade, um calabouço,
 morada virou cadeia
 e gente indiferente
 com cara de lobisomem.
 Tudo isso começou,
 quando a cidade cresceu
 esquecida da natureza
 com a agonia dos homens.
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Novos dizeres. Ilhéus: Editus, 2016. p. 42)


DO NÃO SER.

Antes o curso, inevitável...
Rasgando o pasto.
Rolando o vale a baixo.
Entre pedras e troncos...
Irmãos de outras quimeras.
Seco antes do fim.
Morto na estrada,
Que não consigo seguir...
Longa demais...
É muita terra ...
É pouca agua...
Não terei alento ao morrer
Não terminarei nos braços
Da amada maré...
Grande mar, não verei
Grande Mar não serei.
AUTOR: Jose Antônio Loyola Fogueira.


ECOLOGIA

Só existe agora
meio ambiente.
A outra metade
a gente acabou.
Tem gente demais
abraçando lagoa,
beijando coqueiro,
adorando passarinho,
queimando couro,
fazendo discurso.

Mas a fábrica produz
mil serras elétricas,
e o povo só vive
na compra de móveis
da mais pura madeira.

Creio que estão
trazendo arvoredos
de outros planetas.
Daí tantos veículos
no espaço sideral.

O ambiente é inteiro,
e o homem sem entender
que ele é apenas mais um
no meio de tanto animal.
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Novos dizeres. Ilhéus: Editus, 2016. p. 61)


EM MEIO A ÁGUA DOCE

Meio ambiente é natureza
Tem várias formas e várias cores
Vários rios, vários riachos
Tem seus contos e sabores

O dinheiro, a riqueza
E todas essas mordomias
Distorcem toda beleza
Do nosso dia a dia.

Os homens por ganância
Espalham todo o mal
Que destoem a natureza
Que nos é fundamental

Em meio a água doce
Que nos banha todo dia
Até do sol escaldante
Que traz vida e reinicia

Esse ciclo vicioso
De plantar e de colher
Que seria tão bonito
Se nós víssemos acontecer
AUTORA: Emily Ferreira dos Santos


GOSTO

Gosto de morar no campo
Porque é lindo
Porque acordo com o canto dos pássaros e também dos galos
Porque tem flores e árvores
Porque respiro o ar puro
Porque tem rios, lagos, lagoas e cachoeiras
Porque tem muitos animais, vacas, porcos, cavalos, burros, patos, gansos, gatos, galinhas e muito mais
Porque sinto a brisa acariciando o meu rosto
Porque tenho paz
Porque tenho o privilégio de ser agraciado pela vida morando no campo
Por tudo isso, sou feliz
Por viver no meio da NATUREZA
AUTORES: Gustavo da Silva, Kailan Silva, Marcela Oliveira, Michael Prínce, Richard Souza, Saimon Sena, Thainá dos Santos, Vitória Sousa


GRAPIÚNA
Este rio é minha memória
o cordel de minha estória
minha sela e minha espora
criador de lavadeiras
sevador de areeiros
salvação de pescadores
arquivo de minha história
intuição de meus artistas
um riscado no meu chão
divisor de meu espaço
diástole de meu tempo
sístole de minha fome
minha artéria esclerosada
quadro-negro da escola
sobre o qual estão os versos
de minha gênese e de meu fim.

Este rio é minha sorte
com ele aprendi a vida
com ele estudo a velhice
com ele adivinho a morte
na corrida para as águas
do oceano que há em mim.
AUTOR:(PÓVOAS, Ruy do Carmo. VersoREverso. Ilhéus: Editus, 2003. p. 77)


LEMBRANÇA TRISTE

Eu era menina
quando mainha me disse:
Filha: - vá pescar!
Pequei piaba, tucunaré, acari
e camarão. Foi festa, alegria de montão.

Agora, mainha falou:
-Filha, não vá pescar,
O rio que você ia
sofreu, secou, morreu
Nunca mais volte lá.
AUTORA: Du Apolônio


 LOUVADA SEJAS, ÁRVORE!

Eu vi. . .
Desde a antiguidade
Teus ramos sorridentes,
Prêmio olímpico dos heróis
Teus ramos, braços erguidos aos céus
por serem mãe que acolhe e guia
por serem pai que defende e abriga
por serem irmãos de todos os reinos:
homens e animais caminhantes,
terra, pedra, água, fogo e ar,
Eu vi. . .

Teu madeiro sofrendo
receber a marteladas
O suspiro moribundo do
Grande Mestre do Amor.
Eu vi teu madeiro sofrido
Carregando mundo afora
piratas por terra e por mar,
distribuindo aromas e tinturas
Aos que se dizem nobres,
aos que nunca souberam
tua nobreza decantar.
Teu óleo de azeitona,
de amêndoa, de copaíba,
curar feridas, doentes.

Eu vi, eu vejo!
Tuas folhas, tapete verde degradé
Tombam maduras no outono
Novas floradas, todo mundo vê!
De tua copa majestosa transparece
Raios lunares, solares, estelares
Em horas líquidas, sonoras,
Tua acolhida exuberante oferece
sombra verdejante aos viajantes,
Aos que louvam, cantam, riem
E também aos que padecem
.
Eu vi, eu te vejo. . .
Oferecendo vida às plantinhas
À relva, tapete a quem sonha.
Aos homens, aos animais, rios e regatos,
Berço pra parir novas gerações.

Eu vi, eu vejo. . .
Tuas flores híbridas, multicores,
muiltilindas, multiformas, multiaromas
jabuticabeiras em traje branco
zumbindo abelhas, besouros, joaninhas,
que escutam, enxergam, aspiram, saboreiam
o aroma límpido da natureza em festa
nas asas de minúsculos beija-flores
em sutis mensagens de sutil amor.
Eu vi, eu vejo. . .

Sabores de teus frutos
Descritos nas páginas dos tempos,
Serpenteando vales, atravessando mares,
Matando a fome dos símios, dos batráquios,
Das larvas e dos homens.

Vejo tuas raízes enroscadas
No fértil âmago da terra
A tecer sementes, semeando albores
de novos dias alvorecidos em primores.
Árvore amiga!
Espécime sagrado, minha companheira!
Quando nasci me recebeste em teu regaço
Sentenciada a acompanhar-me
em minha hora derradeira.
O que será de mim e de minhas proles
Se não bradarmos contra os machados
Que covardemente te condenam?

Diante da injustiça e da ingratidão
Com que és tratada, minha irmã!
Denunciarei mesmo impotente, eu sei,
carregando a bandeira em tua honra

Que não se perca mais árvores
na ambição dos ímpios, dos malfeitores.
Não foram vocês que construíram
tão magnífico estupendo esplendor!

AUTORA:Efigênia Oliveira


MÃE

Ah Mãe das Mães, planeta Terra parabéns!
Ventre que cria o ser humano também
Força mantenedora dessa sublime ventura
Racional, dentre irracionais desventuras.

Berço dos berços de geração em gerações
Brasil, onde vivemos Pero vaz de caminha determina
Em sua carta escrita, ao Rei de Portugal então
Terra onde se plantar tudo dá!
Gonçalves Dias também em seu poema criação
Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá
Que com toda assertiva, vem a lhes confirmar.

Essa força criadora, tem em toda expressão
A Mãe terra planetária, em intensa produção
Todo comercio existente, em seu produto vendável
Está a Mãe terra criando, no seu poder venerável!

Entre a lei de produto e consumo temos Profissão, carros, motos, frutas, cereais, verduras, legumes, roupas, prédios, eletrodomésticos, móveis, aviões, livros, papéis, remédios, pratos, talheres, joias, produtos de higiene, oxigênio, água que dessedenta a sede do imortal ser!
Um legado precedente ao ser humano viver! Parabéns a você!
AUTOR: Nhei Mhatos


MAU HOMEM

  A vida era bela
  O céu todo azul
  Os rios, só pureza.
  E então, de repente,
  O bicho homem apareceu.

  Não era para matar a vida,
  Era para somar.
  Mas o homem,
  Animal irracional
  Destruiu seu lar.
  AUTORA: Lila Sousa


O AMOR

Se o amor é forte, eu sou forte também
E o coração dura mais do que posso imaginar, acreditar
Pelo amor eu estou e sou feliz, o meu coração está cheio de amor por tudo de bom que já fiz
Um grande amor que vai chegar mas,
Estou apaixonado por uma bela morena corajosa e valente
Luta por tudo que quer e consegue
O futuro nunca mais será o mesmo
Depois que eu me apaixonei.
AUTOR: Saimon Sena

O ANJO


Valente guerreiro que veio até nós
E fez-nos ouvir o esplendor de nossa voz
Seu canto de afirmação vem mostrar
Que nossa beleza é singular
Se outrora lamento e sedento de dor
Profundo tormento e me faltava amor
Não via beleza na pele, no olhar
A minha raiz precisava afirmar
E um anjo tão maravilhoso chegou
Nos abriu os olhos, amor próprio brotou
E resplandeceu negritude a brilhar
O orgulho da raça se fez ressoar
E nos quatro quanto o batuque se ouviu
o cortejo afro nas ruas surgiu
Sou negro, sou forte, tenho meu valor
Eu sou anjo negro filho de Xangô,
Autor: Egnaldo França


O SENTIDO DA VIDA

Entender a vida, a vida como ela é,
Vida com vidas, vidas vividas.
Ter ou ser vidas, ser e aprender vidas,
Aprender e buscar vidas, o buscar do querer vidas.
No íntimo da vida de Maria, Maria vai buscar,
O amor que Maria quer, quer Maria amor pra dar.
Quem na vida, se procura?
Se procura na vida quem?
Quem se procura na vida?
Quem na vida se quer procurar!
No balanço dessa vida, se balança sem parar.
O vai e vem do balanço, o vem e vai do balançar.
AUTORA: Ekede Branka de Oxumarè


O SONHO DE UM JOVEM

Todos nós temos sonhos,
Alguns até se tornam realidade.
Muitos sonham com um mundo melhor,
Mas não é tão simples assim, essa é a verdade.
Eu sonho com pessoas melhores,
Uma civilização que seja mudada,
Que não agrida o meio ambiente,
Uma nação estruturada.
Para que isso aconteça
Cada um tem que fazer a sua parte
Acabando com a violência
Antes que seja tarde.
Parece até um discurso político,
Mas eu digo que não é.
É o sonho de um jovem
Que tem esperança e muita fé.
AUTOR: Artur de Jesus Almeida

OXÓSSI

Oxóssi (São Jorge),
meu santo viril,
querendo caçar,
viajou pro Brasil.
Num grito de caça,
okê arolê!
deixou sua África
ao som do aguerê

Vestido de príncipe,
aljava nas costas,
seu arco de morte
Oxóssi brandiu.
Saindo das matas,
chegou entre nós
e mil novidades
diferentes das feras,
Oxóssi bem viu.

O verde desapareceu,
o boi ficou caro,
o porco custando uma fortuna.
Botaram água no leite,
deixaram meninos sem pão.
A hiena deixou de rir:
os homens estão se matando.
O lobo calou o seu uivo:
assaltante espreita na rua.

E espantado de tudo,
Oxóssi voltou,
entrou na Amazônia,
seu novo habitat.
Mas a mata estalava
coberta de fogo,
índios doentes
pediam bebida,
terra e comida,
remédios e pão.

À beira da mata,
Oxóssi sentou-se.
Olhou para a lua,
mas não vou para lá:
uma bandeira tremia
na face da lua,
vendo o sangue da guerra
na terra jorrar.

Morte, matança,
a única lição
de flecha e lança
que o homem não cansa
de mais aprender...
E entrando na mata,
o Príncipe, calado,
lembrando das feras
da África distante,
sumiu na Aruanda.
Okê arolê!
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Vocabulário da paixão. Ilhéus: FESPI/CEPLAC, 9985. p, 66-68)


RICACHOEIRA
Minha terra tem um rio
onde os poetas bebem
a inspiração


e os desamparados da sorte
pescam, no leito poluído,
peixes rarefeitos e doentios.

Minha terra tem um rio
onde navega uma civilização,
plantando cacau,
semente de ouro, porque não sabe
fazer outra coisa.

Minha terra tem um rio
onde lavadeiras franzinas,
velhas, moças, meninas,
limpam o lodo da roupa
que nunca vestiram.

Quem dera, essas mulheres
de mãos milagrosas
Pudessem lavar
o individualismo
que marca a gente
do meu torrão.

E minha terra teria um rio
sem tantas cachoeiras nos olhos
dos velhos desiludidos,
dos moços sem esperanças,
dos menores abandonados,
dos homens desempregados,
dos escravos sem remissão.
                AUTOR: PÓVOAS, Ruy do Carmo. Vocabulário da paixão. Ilhéus: FESPI/CEPLAC, 9985. p, 26)

RIO 
 
Nado,
Em nada
Sem água,
Sem peixe,
Sem ar: roubaram meu oxigênio.
E nado na vida 
Sem nada, 
Sem rio 
Sem nada para nadar.
AUTOR: E. Pereira


RIO MORTO

Criatura de Deus,
o rio apodreceu,
você não está vendo isso?
Vixeee!

Criatura do Cão,
quem vai pagar o pato
é a futura geração.
Hum!

Criatura abestalhada,
se nada for feito,
a sua memória
será apagada.
Xiiii!...

Criatura infame,
acorde na vida,
antes que a sombra
de sua ferida
no rio se derrame.
É, né?...
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Matéria acidentada. Ibicaraí, BA: Via Litterarum, 2017. p. 53)


SEM DESTINO

O passarinho pousou no galho,
O galho quebrou,
O passarinho caiu sobre o homem,
O homem o matou.
AUTORA: Victória Ribeiro


TABOCAS

Vozes silenciadas, de repente
Tomam corpos emprestados.
Quem não empresta é sequestrado.
Falsos surdos se assustam e se convocam,
Espiando para fora das conchas seculares.

Um suspiro? Psiu!
Um ai? Lugar de doente é no hospital...
Um grito? Chama a polícia!
Um urro? Mataram mais um desavisado...

E derreando-se em nichos de luxúria,
se diverte uma lua Juliana,
deixando Tabocas dormir
com aviso repaginado.
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Novos dizeres. Ilhéus: Editus, 2016. p. 155)


TERRA MORTE

O chão se fez com lama e terra seca
                                                  [sem água, sem vida.
E do chão nada brotou, nem o feto, nem o verme, nada: nem amor.
Brotou a dor mais profunda de suas vísceras, fez seu grito,
                                                  [não adiantou: não ouviram.
Vento, folhas secas, galhos vagando.
Nenhum verde para testemunhar a morte.
Nem mandacaru, nem espinho qualquer.
Só tristeza.
E pediram emprestados os calos
do nordestino trabalhador, do homem sem face,
coberto de panos e de chapéu:
não há identidade,
são todos mascarados.
São todos “ninguém”!
E o chão ainda sedento de vida
sequestrou o corpo do homem que,
morto, a terra alimentou...sem testemunhas.
AUTOR: Ricardo Dantas


UTOPIA DESREGRADA

Não quero
o destino do rio,
sempre indo sem voltar.
Não quero
a sorte da montanha,
subindo para nenhum lugar.
Não quero
a sina da mata,
verdejando para secar.
Não quero
o fado da rocha,
eterna prisioneira,
cravada no mesmo lugar.
Quero, sim,
a energia do oceano
que agora avança
para depois recuar,
que agora recua
para depois avançar.
No combate com a terra,
não precisa de descanso
e nunca deixa de pulsar.
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Matéria acidentada. Ibicaraí, BA: Via Litterarum, 2017. p. 28)


YEMANJÁ

Lua cheia, hoje, no mar.
Festa na praia para Iemanjá.

Iemanjá não está mais no mar...
Depois do vazamento de óleo,
A Dona-das-águas,
em pranto de choro,
saiu do lugar...

Lua cheia, hoje, no mar.
Festa na praia para Iemanjá.

E o mar se tornou
sem vida, sem luz,
sem peixes, sem búzios,
sem sal cristalino
nas ondas do mar...

Lua cheia, hoje, no mar.
Festa, na praia para Iemanjá.

O verde enegreceu,
a espuma ficou cinzenta
e as praias foram proibidas.
Mamãe Iemanjá
calou e seu canto,
em vez de canção
começou a chorar.

Lua cheia, hoje, no mar.
Festa na praia para Iemanjá.

Chorou de saudade
do azul puro do mar,
das vagas bravias,
das ondas mansinhas
ao raio de luar.

Lua cheia, hoje, no mar.
Festa na praia para Iemanjá.

E o homem, chorando,
sentado na praia,
ainda fazendo
pedidos sem fim
à Dona-do-Mar...
Odoya, Mamãe!
Ofê ayabá!

Lua cheia, se joga no mar...
Explode essas ondas, para tudo acabar!
AUTOR: (PÓVOAS, Ruy do Carmo. Vocabulário da paixão. Ilhéus: FESPI/CEPLAC, 9985. p, 62-64)







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