domingo, 14 de fevereiro de 2010

Preparativos para os 30 Anos de Santo de Mãe Vanda





No dia 24 de dezembro de 1941, nascia, nesta cidade de Itabuna, a Filha de Oyá, Desdêmona Ferreira Dantas Nascimento, nossa Mãe Vanda, a Yalorixá deste Terreiro. Casada há 47 anos e mãe biológica de seis filhos. Três desses se iniciaram no axé: Luiz Carlos Dantas (Babalaxé), Alana Dantas (Yakekerê) e Paulo Dantas (Ogã), uma neta Tâmara de Oxoguiyàn (Iyawò).

Sua história é repleta de memória viva e ativa. Filha de Oyá com Omolu, Mãe Vanda sempre mostrou determinação naquilo que queria realizar. Foi iniciada no Axé no dia 22 de fevereiro de 1980, pelas mãos de Mãe Nair da Silva Oliveira, Nêngua Kamungunzu.

Fundou o Ilê Axé Oyá Funké no dia 22 de agosto de 1983, dando continuidade às suas obrigações. Anexo ao terreiro, fundou um Orfanato que abrigou mais de 500 crianças. Algumas adotadas no Brasil, outras no exterior. Outros, ainda, seguiram os passos de Mãe Vanda, iniciando-se no santo: Cristiane d’Oxossi (primeira Ekedji da casa, hoje residente em São Paulo), Gabriel Nunes e Adriano Lucas(ambos Ogãs e filhos de Ogum) e Débora Lourença de Yemanjá Ogunté (Ekedji). Hoje seus filhos aumentaram: os filhos do axé. Iniciados que se viram envolvidos pela simplicidade, simpatia e carisma de mãe.

Sua saga continua: torna-se advogada, formando-se em Direito na Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna – FESPI. Em seguida é aprovada em concurso público municipal, assumindo ao cargo de Procuradora Jurídica da Secretaria de Desenvolvimento Social. No ano de 1987 torna-se Sócio - Fundadora da ACAI – Associação de Culto Afro Itabunense, junto a sacerdotes, artistas e baianas de acarajé, onde responde, com afinco, a tudo que diz respeito à abertura de Casas de Candomblés, luta contra a falta de respeito religioso, etc. Mais um passo em sua trajetória: foi eleita Presidente das Baianas de Acarajé de Itabuna, respondendo pelos direitos ao resgate da tradição. Com ímpeto e firmeza, realiza o primeiro casamento religioso com efeito civil em seu Terreiro de Candomblé no interior da Bahia, ato que somente ocorria em determinadas religiões. Tal ato representa um histórico de valorização da nossa cultura afro – brasileira e da valorização do Candomblé enquanto religião constitucionalmente reconhecida enquanto tal.

Foi Coordenadora da cidade de Itabuna e região da FENACAB Federação Nacional do Culto Afro Brasileira por dois andatos.

Com a garra dos ventos e das tempestades, Mãe Vanda é a Presidente da ACAI, no ano de 2008, quando somos reconhecidos como Ponto de Cultura da Bahia, localizado dentro de um espaço de axé: ousadia de quem sempre sonhou e desejou o respeito.

Alçando voos mais altos, adentra no universo das mulheres grapiúna, assumindo a posição de Conselheira do Direito da Mulher, fazendo valer a força que elas têm. É também Conselheira Municipal de Assistência Social, assumindo sua posição de ser humano que pensa no outro e em seus direitos. Sua presença em Cultos ecumênicos tornou-se corriqueira, enfatizando sua luta pelo social, sua garra enquanto mulher e seu desejo de crescer e de possibilitar os outros no mesmo caminhar. Assim, segue a grande história desta mulher, Yalorixá e advogada, que, neste ano de 2010 completará 30 anos de história no caminho do axé. Guerreira e desafiadora tal qual a Mãe que rege o seu Ori – Mãe Yansã – é assim que Mãe Vanda se mostra neste plano terreno, deixando sua mensagem de vida, fé, coragem e memória viva.


Ricardo Dantas

Olufemin

(Iyawò ty Osolufòn)

Um comentário:

Unknown disse...

O ILÊ AXÉ IJEXÁ ORIXÁ OLUFON e a a ASSOCIAÇÃO SANTA CRUZ DO IJEXÁ - ASSANCRI, ambas sediadas nesta cidade de Itabuna, unem-se ao Terreiro Ilê Axé Oyá Funké, à ACAI e à Mãe Wanda, elevando suas vozes em protesto contra o desrespeito, a falta de compustura, à violência de que foram vítimas, conforme relato da "Nota de Repúdios" divulgada pela ACAI. Informa aquela nota que a Ialorixá Mãe Wanda, fora convidada pela TVI, para ser entrevistada. E ao entender ao convite, para sua surpresa, a referida Ialorixá fora impedida de ser entrevista por um senhor que se dizia autoridade máxima daquele órgão de comunicação. O impedimento se devia ao fato de Mãe Wanda ser pessoa que professa a religião do candomblé.
As pessoas preconceituosas ainda imaginam estar vivendo os tempos de Pedrito Gordo, famigerado delegado do passado, que invadia os terreiros e aprisionava os fiéis do candomblé que eram considerados criminosos por praticarem outra fé.
Essas pessoas desconhecem que não são donas do mundo e que o Brasil é uma República dedomcrática, cuja Constituição garante liberdade de culto aos cidadãos e cidadãs brasileiros.
Para além disso, o mínimo que se espera de um homem é que ele seja gentil e cavalheiro com as mulheres. E Mãe Wanda foi humilhada e ofendida no seu exercício da liberdade de escolha justamente por um homem. Esse referido senhor precisa aprender que ele não é dono do mundo, que veículo de comunicação não tem religião, que Itabuna não está mais nas garras dos coronéis do cacau. A mentalidade dele pode até ser retrógrada, medíocre, atrasada, mas isso não nos obriga a suportar o subproduto de suas escolhas.
Devemos deixar claro que as senzalas foram extintas no Brasil desde 1888; Pedrito Gorto está morto e sepultado há décadas; o Brasil é um país democrático; Itabuna é terra de gente boa e civilizada; a nossa Constituição nos garante liberdade de culto. Por tudo isso, as vozes dos terreiros de Itabuna não podem se calar. Hoje, foi Mãe Wanda que serviu de alvo do ódio, da discriminação, do desrespeito, da ignorância, da selvageria, da violência. Amanhã, certamente, seremos nós outros, os que professamos a mesma fé.
Essa espécie de gente está acostumada a agir assim nas praças, nos meios de comunicação de massa, e tudo ficar por isso mesmo. Ensinemos, pois, a essa gente, pela via dos tribunais, que com o tempo, todas as coisas mudam, e nós mudamos com elas.
À Mãe Wanda, todo o nosso apoio e solidariedade. Ao Terreiro Oyá Funké, nossa declaração pública de que estamos juntos nessa luta. À ACAI, nossa disponibilidade para a reação.
Ruy do Carmo Póvoas - Ajalá Deré
Babalorixá do Ilê Axé Ijexá Orixá Olufon

Edivaldo Souza Fadori
Presidente da ASSANCRI
Ogã Olubori de Oxum Abalô

Arquivo do blog